O Centro de Integridade Pública-CIP, acusa o Governo de Moçambique de ter cometido o erro de não criar centros de acolhimento para os milhares de deslocados que fogem da guerra em Cabo Delgado, transferindo essa responsabilidade para as famílias.
Uma pesquisa feita pelo CIP sobre os deslocados de guerra em Cabo Delgado, a ser divulgada em Abril próximo, indica que além das mortes por decapitação, que é a parte mais visível deste conflito, existe também a questão dos deslocados, cujo número se estima, neste momento, em cerca de 670 mil.
O pesquisador do CIP, Borges Nhamire, que liderou a pesquisa, afirma que com o ataque da semana passada à sede distrital de Palma, o número de deslocados de guerra poderá chegar a 700 mil.
Nhamire avança que "o problema é que o Governo cometeu um grande erro, de não criar centros de acolhimento para os deslocados de guerra; em qualquer parte onde há deslocados, a primeira coisa que se faz é criar centros para acolher esses deslocados; em Moçambique isso não aconteceu e o Governo transferiu essa responsabilidade para as famílias".
Refere que nas chamadas aldeias de reassentamento definitivo, anunciadas pelo Governo, não existem condições para as pessoas fixarem residência, "porque a única coisa que existem são furos de água", além de terrenos atribuídos aos deslocados para habitações.
Sofrimento profundo
Nhamire considera que com o ataque a Palma a situação humanitária em Cabo Delgado vai piorar, "e a grande incapacidade do Governo para fazer face a este ataque, fará com que o sofrimento das pessoas seja muito mais profundo".
Por seu turno, o pesquisador do Observatório do Meio Rural, João Feijó, diz ser preocupante a situação em Cabo Delgado, realçando haver relatos de crianças que chegam a Pemba sozinhas e nada sabem dos pais.
A grande maioria dos residentes em Palma, diz Feijó, se encontra ainda espalhada pelo mato; algumas pessoas não conseguiram percorrer grandes distâncias e tentaram fugir para a vizinha Tanzania, mas não conseguiram entrar.
"Foi mais um ataque"
João Feijó considera fundamental o papel das organizações humanitárias e da sociedade civil na assistência às vítimas da guerra, "que, na realidade têm compensado as fragilidades do Estado e, de alguma forma, se vêm substituindo ao Estado".
Entretanto, pela primeira vez, o Presidente da República, Filipe Nyusi, pronunciou-se sobre o ataque a Palma, afirmando que "foi mais um ataque; não foi o maior que tantos outros que sofremos, mas tem esse impacto de ter sido à periferia dos projectos em curso naquela província".
"Não percamos o foco, não fiquemos atrapalhados e abordemos o inimigo com alguma contundência como o fazem as forças de defesa e segurança, porque a falta de concentração é o que os nossos inimigos internos e externos querem", apelou o estadista moçambicano.