O comando provincial de Luanda da Polícia Nacional (PN) refutou a acusação de que seus agentes tenham assassinado Inocêncio Alberto de Matos durante a repressão às manifestações do passado dia 11 na capital angolana.
“O jovem não morreu na manifestação e essas foram as declarações dos médicos sobre a morte do jovem, logo a morte do jovem não teve nada a ver com a polícia", disse nesta sexta-feira, 12, o porta-voz da corporação.
Nestor Gourgel referia-se à declaração do médico do Hospital Américo Boavida, Augusto Manuel, que ontem afirmou que Matos morreu na sequência de uma paragem cardio-respiratória, depois de ter sido sujeito a uma intervenção cirúrgica.
Manuel disse à televisão pública TPA que ele foi alvo de ferimentos na cabeça provocados por um “objecto contundente” por identificar que, acrescentou, pode ter sido “um pau, um pedaço de metal, de ferro”.
Gourgel voltou a defender que a PN não usou munições quando, segundo ele, travou “uma manifestação que não reuniu os pressupostos necessários para a sua realização".
Ao assegurar que a PN fez “uso de força proporcional”, o porta-voz reiterou que “actuou de forma legal, legítima e habitual nessas situações" e que, por isso, não será aberto qualquer inquérito à actuação policial.
Pai da vítima acusa
Versão diferente tem a família de Inocêncio Alberto de Matos, que acusa a polícia do seu assassinato.
Em entrevista à VOA, o pai, Alfredo Miguel Matos, antigo combatente das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), braço armado do MPLA na luta pela independência, diz que o filho não foi morto a tiros, mas sim pela tortura da Polícia Nacional (PN) e exige justiça.
“Pelo que vimos, ele foi assassinado pela polícia, o meu filho não foi baleado, mas vê-se que foi torturado pela polícia”, afirma Matos, lembrando que a manifestação não é um crime e por isso não vê razões para o assassinato do filho.
“A manifestação é um direito adquirido e por isso não vejo qualquer motivo para que o meu filho fosse assassinado dessa forma”, sublinha Alfredo Miguel Matos.
A família já pediu a autópsia para saber as razões da morte do estudante universitário, de 26 anos de idade e promete formalizar uma queixa-crime contra as autoridades policiais.
Organizações internacionais, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, criticaram a actuação da PN e pediram investigações independentes, bem como a responsabilização dos autores de violações de direitos humanos.