Os seis arguidos suspeitos de terem assassinado o ativista Anastácio Matavel apostam na estratégia de atirar a responsabilidade aos colegas ausentes, nomeadamente o foragido Agapito Matavel e a dois agentes da polícia que morreram num acidente de viação.
O julgamento decorre, na cidade de Xai-Xai, capital de Gaza, onde Matavel foi morto a 7 de outubro de 2019, uma semana antes das eleições gerais.
O pesquisador Adriano Nuvunga, do Centro de Democracia e Desenvolvimento (CDD), e o jornalista Fernando Lima, dizem que a esta estratégia era de todo esperada.
“Como eles não estão cá para responder e para contar aquilo que aconteceu, é fácil numa estratégia de defesa fazer e montar este cenário (...) em relação à condenação aí não há nenhuma dúvida, porque todos eles são autores materiais confessos do crime”, diz Fernando Lima.
Nuvunga diz que “o depoimento das pessoas que estão lá mostra claramente que são estes que devem ser responsabilizados”.
A família do ativista exige uma indemnização ao Estado moçambicano de cerca de 35 milhões de meticais (cerca de 540 mil dólares americanos), mas a procuradoria moçambicana contestou o pedido.
Nesta primeira etapa do julgamento “não há qualquer evidência de o Estado ter patrocinado o assassinato, ou seja há agentes do estado envolvidos mas não está provado que eles agiram a mando do Estado ou a mando de um comando hierárquico,” diz Lima.
Mas para Nuvunga, “o processo em julgamento não está completo, porque os polícias estão a ser julgados na sua capacidade individual de pessoas, mas essas pessoas agiram vestindo uniforme policial do estado, com as insígnias, as armas do estado moçambicano por isso este crime é crime do Estado.”
Muitos esperam que este julgamento possa revelar quem foram os mandantes do assassinato de Matavel, em pleno período de campanha eleitoral.
“A expectativa do CDD é de que naquilo que ainda sobrou no processo, no que sobrou ainda de dignidade do processo haja justiça,” diz Nuvunga.