A sociedade angolana está dividida sobre o meio como está a ser levado a cabo o combate à corrupção , disse no programa “Angola Fala Só” Agostinho Sikato, director do Centro de Debates e Estudos Acadèmicos.
Sikato falava sobre o impacto do “Luanda leaks” na justiça e política de Angola onde afirmu que embora tivesse havido um acordo unânime sobre a necessidade do combate à corrupção, nunca houve uma discussão sobre como levar a cabo esse combate.
“A dicussão seria: por onde começar? Quem seriam os primeiros alvos?”, disse Sikato para quem deveria ter havido “um debate nacional devido à sensibilidade das figuras envolvidas nesse processo”.
Devido ao facto desse diálogo não ter existido “a sociedade está totalmente dividida” com muitos a considerarem que há “uma justiça selectiva” que tem como alvo a família do anterior presidente e pessoas próximos a ele.
Sikato recordou que as pessoas que são visadas no combate à corrupção “são pessoas que trabalharam dentro do MPLA” pelo que “havia a necessidade de conversar primeiro e em função deste diálogo encontrar-se caminhos próprios para se resolver o problema”.
“Era necessário chamar as pessoas que delapidaram o erário publico e colocar-lhes condições”, disse o director daquele centro de debates.
Interrogado sobre a lei que deu 90 dias a pessoas para devolverem fundos retirados ilegalmente sem qualquerpenalização, Sikato disse que isso foi “um período muito curto”.
“Estamos a falar de dinheiros que foram retirados dos cofres de estado durante anos”, disse, afirmando não ser possivel devolver esse dinheiro no espaço de "um mês ou seis meses"
Noutro passo do programa Sikato voltou a frisar que “só o diálogo” pode resolver esta situação.
Para o politólogo é necessário “abrir um espaço onde se possa poder discutir” e evitar-se um “combate populista á corrupção que não vai trazer resultados”.
“Começamos o combate mas começamos mal”, disse durante o programa ainda sobre a mesma questão sublinhando que em Angola o que hoje é considerado mau “era considerado bem” pelo que há necessidade de "um dialogo aberto “ e sem tabus”.
“Nós não precisamos de um combate à corrupção mediatizado, precisamos de resultados do combate á corrupção”, acrescentou sublinhando que no passado recente “era normal tirar do erário público, era normal desviar o dinheiro do estado”.
No programa Agostinho Sikato disse que o combate à corrupção como está a ser levado a cabo provocou uma “rotura dentro do MPLA”.
“O nome mais perigoso para se mencionar dentro do MPLA neste momento é José Eduardo dos Santos”, disse.
“Quando dentro de um partido político se chega ao ponto de mencionar o seu antigo presidente como o inimigo número um do estado temos consequências políticas elevadas” acrescentou.
Interrogado sobre o sistema judicial, Agostinho Sikato disse que foi dado “um passo significativo” para melhor no modo como actua a justiça angolana.
“É preciso notar que nós não mudamos de regime mas sim de presidente, mas com este presidente os orgãos de justiça estão a transmitir uma mensagem diferente, uma mensagem que afinal é possível os orgãos de justiça serem independentes”, afirmou.
Para Sikato o sistema judicial angolano está agora perante a escolha de “voltar ao passado e seguir o que o partido orienta ou então rompe definitivamente e - com ou sem insuficiências - tem que ir para a frente”.
O politógolo respondeu também a uma pergunta sobre a cooperação de Portugal no processo de combate à corrupção sublinhando que Portugal “foi o destino principal e o caminho dos recursos delapidados” prevendo negociações entre os dois governos.
Agostinho Sikato critou a actuação dos partidos políticos angolanos afirmando que eles agora “só têm uma opção que é deixarem de ser vassalos”.
“Os nossos partidos políticos tornaram-se em funcionários públicos”, disse afirmando que para ter sucesso um partido “deve primeiro tornar-se numa ameaça e depois numa alternativa possível”.
“Nenhum dos partidos é uma ameaça e nenhum é uma alternativa viável”, disse acusando a oposição de não agir “ficando apenas a resmungar num ou outro orgão de comunicação social”.
“Enquanto tivermos uma oposição que pisca á direita e vira á esquerda será muito dificil termos alternância”, disse.
Para Agostinho Sikato o MPLA quer atrasar ao máximo as eleições autárquicas porque elas resultarão em ter que partilhar o poder com a oposição.
Se as autárquicas não se realizarem este ano então terão que ser proteladas para um futuro distante porque no proximo ano tem que se começar a preparar as eleições gerais, acrescentou