Sobreviventes aos massacres que se seguiram aos confrontos de 27 de Maio de 1977 em Luanda, na capital angolana, relataram à VOA as torturas que sofreram e as mortes que presenciaram nas prisões e campos para onde foram levados.
Dizem que só voltou quem Deus quis e apostam na reconciliação.
Muitos foram presos sem saber por quê ou apenas por pertencerem a unidades militares consideradas suspeitas de serem leais a Nito Alves, o então ministro da Administração Interna e membro do Comité Central do MPLA, acusado de tentar levar a cabo um golpe de Estado.
Moisés Antonio da Silva Martal, de 61 anos, diz ter sido preso apenas por pertencer à primeira região militar e foi um dos poucos que sobreviveram num campo em Calundano no Moxico.
“Eu posso dizer que tenho uma nova vida porque estive à beira da morte”, afirma.
“Só voltou a quem de facto Deus atribuiu uma segunda vida porque num universo de mais de 9 mil homens voltamos menos de 900 pessoas”, conta, acrescentando que "todas as familias angolanas foram tocadas", directa ou indirectamente, e que "só com a reconciliaçao é que podemos ultrapassar isto”..
Outro sobrevivente, José Julio, de 60 anos, foi preso com apenas 17 anos de idade, enquanto militar das extintas FAPLA destacado em Caxito, na provincia do Bengo.
Conta ter sido levado para a cadeia de São Paulo, onde ficou sete meses e foi submetido a torturas, antes de ter sido transferido para o campo de São Nicolau.
Júlio afirma não saber como sobreviveu.
“Aquilo foi turtura no verdadeiro sentido da palavra”, concluiu aquele sobrevivente, pedindo que a comissão criada recentemente "indemnize as vitimas do 27 de Maio com resultados palpáveis".
Os acontecimentos de 1977 têm sido chamados de "purge no MPLA e neles milhares de pessoas terão sido mortas alegadamente por estarem a preparar ujm golpe de Estado, o que, para muitos observadores, foi um acerto de contas entre facções e líderes do MPLA, na altura liderado por Agostinho Neto.
No passado dia 25 de Abril, o Bureau Político do MPLA decidiu organizar um plano de homenagem para honrar a memória dos angolanos que foram vítimas de conflitos políticos, entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002, incluindo aqueles que foram mortos em 1977.