O governador do Estado do Missouri anunciou que vai enviar mais tropas da Guarda Nacional para a cidade de Ferguson abalada durante a noite por violência e confrontos com a polícia.
Pelo menos uma dezenas de edifícios em Ferguson e nos arredores foram destruídos por fogo posto, disse o chefe da polícia da cidade que acrescentou só ele tinha ouvido mais de 150 tiros disparados.
Afirmou contudo que a policia não fez uso de fogo real.
Os distúrbios eclodiram depois de um grande júri ter decidido não formalizar qualquer acusação contra um agente da polícia de raça branca, Darren Wilson, que matou a tiro um adolescente afro-americano, Michael Brown, em Agosto.
O grande júri é uma instituição do sistema jurídico de muitos estados americanos que existe para verificar se acusações a serem apresentadas pela procuradoria tem base ou não. O sistema foi introduzido para proteger cidadãos de acusações frívolas ou, em casos como este, para impedir que pressões de qualquer espécie possam influenciar procuradores nas suas acusações.
Ao contrário de um júri num julgamento, um grande júri pode fazer perguntas quando analisa as acusações e pode interrogar as testemunhas. São 12 jurados e as suas decisões são adoptadas por uma maioria de dois terços e não por unanimidade como num julgamento de nove jurados. Neste caso o grande júri era composto por seis pessoas de raça branca e três afro-americanos.
O procurador Bob McCulloch afirmou que o júri determinou “que não existe qualquer razão provável para se indiciar com qualquer acusação o agente Wilson e deram um NÃO a todas as cinco acusações” que tinham sido apresentadas.
Um caso diferente dos outros
Ao contrário do que também é habitual, o procurador deu a conhecer todas as provas e testemunhas que falaram perante o grande júri e o que se depreende é que a realidade do que se passou é diferente daquela que inicialmente se apresentou quando testemunhas disseram que Brown foi morto quando estava de braços erguidos em rendição e que teria sido mortos pelas costas.
O agente da polícia, Darren Wilson, aparentemente desconfiou que Brown e um outro parceiro eram as pessoas que tinham estado envolvidas num roubo de charutos numa loja próximo do local do incidente.
Darren Wilson teria sido atacado dentro do seu veículo pela janela por Brown algo que ficou demonstrado pelo facto de haver sangue da vítima não só na farda do polícia como dentro do veículo mas também por ferimentos do próprio polícia. Dois tiros teriam sido disparados dentro veículo.
Brown teria depois tentado fugir e quando perseguido pelo agente da polícia tentou atacá-lo. Segundo os documentos publicados testemunhas confirmaram o ataque e a autópsia demonstra que as acusações de que Brown teria sido morto pelas costas ou de mãos erguidas não correspondem à verdade.
O procurador disse que testemunhas comprovaram que Brown foi agressivo contra o agente da polícia.
“Brown carregou sobre ele com toda a força e (as testemunhas) disseram que quando o agente Wilson disparou, Brown parou e Wilson parou de disparar”, disse o procurador.
“Disseram que quando Brown começou de novo a avançar com toda a força , o agente Wilson começou de novo a disparar”, acrescentou.
Na sequência da decisão do grande júri o Presidente Barack Obama falou na Casa Branca apelando à calma e apelando à polícia local para ser comedida no seu controlo de manifestações pacíficas.
“Junto-me aos pais de Michael Brown no apelo a qualquer pessoa que queira protestar contra esta decisão para o fazer pacificamente”, disse.
Foi obviamente um apelo que não foi ouvido, um reflexo de emoções altas e também da percepção existente entre muitos afro-americanos que o sistema jurídico é tendencioso contra os afro-americanos.
Separar factos da ficção
O próprio Presidente Obama disse que isto é o resultado da profunda desconfiança que existe entre a comunidade afro-americana da polícia, resultado de um passado de discriminação algo que disse ser trágico porque, nas suas palavras, as comunidades que mais precisam de polícia nas ruas são as comunidades mais pobres onde habitam muitos afro-americanos.
O procurador disse que o dever de um grande juri é separar os factos da ficção e que foi isso que fez. Mas os últimos acontecimentos demonstram que isso não é muitas vezes suficientes para apagar a percepção, correcta ou não, que o sistema judicial é tendencioso contra os afro-americanos.