Vários ouvintes disseram que o presidente não tem colaboradores à altura das suas responsabilidades, mas outros rejeitaram isso afirmando que a responsabilidade do que vai mal é sempre em última análise do presidente.
A figura do presidente foi com efeito um dos temas que mais discussão causou no programa de estilo “microfone aberto” em que os ouvintes foram convidados a falarem sobre os problemas nas suas províncias e cidades e também dos progressos registados ou falta deles na reconstrução do país.
Geralmente o programa Angola Fala Só conta com um convidado que responde a perguntas dos ouvintes sobre as questões que ele próprio conhece.
O programa de “microfone aberto” aos ouvintes foi também marcado por sugestões práticas para se colocar desmobilizados na polícia, para contactos com dirigentes e também para se apoiar Organizações Não Governamentais.
O debate sobre a figura do presidente pode ser exemplificado pela pergunta que o ouvinte Elias Faustino deixou: “Aqueles que criticam o MPLA e o presidente que me digam qual é o partido que podia ter reconstruído Angola em 10 anos?”
Um outro ouvinte, Mariano Wassuka, disse que o país “não tem rumo” e isso deve-se ao facto do “presidente não ter colaboradores à altura das suas tarefas”.
“Eles é que estão a estragar o nosso presidente,” disse Mariano Wassuka.
“Não hà ética e moral política e sem isso não se faz boa política,” acrescentou.
Mas o ouvinte Mbenguno Daniel disse que culpar “colaboradores” não é desculpa para a má actuação do governo
“O presidente é responsável e portanto culpado pelos seus colaboradores,” disse afirmando ainda que aqueles que rodeiam o presidente “têm medo” de o criticar porque “quem crítica é culpado”.
O presidente Eduardo dos Santos é eleito dirigente do MPLA sem oposição porque há medo de votar contra.
“Quem é que vota contra quando a votação é de mão no ar?” interrogou Mbenguno Daniel.
Manuel Aleixo Sobrinho foi o primeiro ouvinte a sugerir que desmobilizados das forças armadas sejam integrados na polícia afirmando que o recrutamento para a polícia é feito hoje sem se saber o passado dos recrutas.
“Como é que se sabe que um recruta da polícia não é um delinquente,” disse Manuel Sobrinho que disse que integrar desmobilizados nas forças armadas serviria para pôr fim a essa situação e ao mesmo tempo dar emprego aqueles que serviram nas forças armadas.
João Mulei, ele próprio veterano das forças armadas apoiou a sugestão afirmando que com militares as autoridades sabem sempre se têm ou não “um homem educado”.
O problema disse ele é que “ o partido no poder está virado contra nós” e isso estende-se mesmo aqueles que ainda estão nas forças armadas.
“Os militares não têm condições,” disse, acrescentando que os “generais não olham para o soldado” e o partido no poder “ não liga aos analfabetos”.
Foi o ouvinte Manuel Aleixo Sobrinho que se insurgiu contra “ a falta de seriedade” do governo em investigar o que está errado.
Recordou que as autoridades prometeram uma investigação ao desaparecimento há um ano dos activistas Alves Kamulingue e Isaías Cassule e nunc amais se ouviu falar das investigações.
Recordou também o desabamento há meses atrás do edifício da judiciária em Luanda em que foi prometido um inqúeiro “ e depois como sempre não há resultados”.
“ É preciso seriedade das pessoas que dirigem o país,” disse.
Para Manuel Aleixo embora “não esteja tudo mal” em Angola “80% da população vive pior do que no tempo colonial, vive em mais miséria do que no tempo colonial”.
Pedro Teca do Uíge sugeriu como meio para se combater o desemprego que o recrutamento governamental dê prioridade a pessoas das zonas onde existem vagas.
Pedro Teca disse que num recente concurso a mais de 80 vagas apenas “dois ou quatro” eram da região e isso “é inaceitável”.
Serafim Chicomo de Benguela criticou os custos de obras realizadas na sua zona, algumas levadas a cabo por empresas de familiares do presidente.
Serafim Chicomo mostrou grande entusiasmo pelo trabalho da organização “Mãos Livres” que defendeu em tribunal angolanos vítimas de injustiças e sugeriu que a organização criasse uma conta bancária onde os cidadãos pudessem contribuir com qualquer quantia para essas actividades.
Sugeriu ainda que a organização arranjasse meios para que pessoas através de Angola se possam voluntariar para ajudar a organização no seu trabalho.
Alberto Numa do Bié sugeriu que os diversos ministérios criassem meios para os cidadãos poderem transmitir os problemas que vivem e para fazerem sugestões
Alguns dos ouvintes referiram-se também ao aumento do crime. Mariano Wassuka disse que há zonas de Luanda onde não se circula a partir do cair da noite devido ao crime e falta de segurança e Alberto Numa do Bié exortou as autoridades a tomarem medidas para combater o crime que, segundo disse, tem vindo a aumentar na sua província.
“É preciso que se tomem medidas sérias contra o crime,” disse.
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