Por Kim Tchaliongo
Luanda - O MPLA transformou-se nos seus 58 anos de existência num partido para satisfazer “interesses pessoais” e para “acumulação de capital”, disseram analistas contactados pela Voz da América.
Outros disseram no entanto que as mudanças ocorridas dentro do partido são apenas reflexo da mudança dos tempos e da ideologia.
Fundado a 10 de Dezembro de 1956, o MPLA partido no poder em Angola, teve na sua esssência a luta pela libertação dos povos do jugo colonial. Um objectivo cujos membros fundadores perseguiram com o espírito de nacionalista, de que a nação era mais importante que qualquer pretenção pessoal.
Passados mais de 50 anos analistas olham para o partido que sustenta o governo angolano com alguma preocupação. Fala-se em desvirtuação das suas ideologias de criação.
O Jurista e membro do Centro de Estudos Populorium Progressio, Domingos das Neves, diz que actualmente reina no seio do maior partido de Angola uma subversação de interesses e de valores, dado que, a questão política na fundação do MPLA era pré-partidário, estando esta no âmago dos interesses do movimento político, o que desapareceu actualmente nas suas acções.
Das Neves afirma por outro lado que “há gente em Angola e no MPLA em particular que entende mal a política e socorre-se dela para satisfação de interesses pessoais” que põe em causa o bem estar dos mais necessitados.
“A maior parte dos jovens e até de mais velhos não conhecem a história ideológica do MPLA, estão ali, muitos deles, só por questões de oportunidade, e isto não é política. Isto é desvirtuar a política, isto é tirar os créditos à política no sentido verdaderio da palavra”, disse.
Porque os políticos têm a vocação de servir a comunidade e não de se servir da comunidade como estamos a ver agora, acrescentou das Neves, para quem “é este aspecto negativo que o MPLA tem que devolver a si mesmo desde a origem”.
O Jurista Pedro Kaparakata pensa que apesar dos seus 58 anos, idade suficiente para ter alguma maturidade, o MPLA actual não é o mesmo de há 50 anos fundado com os projectos de “resolução dos problemas do povo”. O analista olha para o partido governate como um instrumento usado para apropriação de bens e acomulação ilicita de riqueza.
“O MPLA é um instrumento de acomulação primitiva de capital, porque se puder ver os membros todos do MPLA, os mais influentes, hoje têm uma vida do ponto de vista económico muito folgada”, disse o jurista para quem isto deve-se “a utilização deste instrumento que é o MPLA”, concluiu.
O docente universitário Venceslau Alves tem uma ideia diferente. O académico entende que no que respeita a alegada alteração da sua essência, deve-se ao dinamismo das ideologias políticas movidas fruto da conjuntura actual do mundo.
Para o docente “as ideologias políticas não são estáticas, as ideologias políticas são dinâmicas, as ideologias políticas alteram-se, mudam-se isto fruto da própria globalização e fruto da própria conjuntura quer interna e internacional”.
As ideologias políticas do MPLA, no fundo, continuam a ser originais, mas com grandes alterações e o bom é que têm sido do ponto de vista positivo, acrescentou.
O MPLA governa Angola desde o alcance da sua independência a 11 de Novembro de 1975. Em 1992, 2008 e 2012 o partido dos camaradas venceu eleições gerais organizadas no país e o analista Domingos das Neves afirma que os resultados dos pleitos eleitorais demonstram que o partido ainda reune consenso no seio dos angolanos, mas olha com preocupação o futuro do partido do governo.
O membro do Centro de Estudos Populorum Progressio pensa que a continuar neste passo “é um deteriorar-se” e aponta como exemplo para o caso do MPLA a queda do grande Império Romano
O advogado Pedro Kaparakata por sua vez entende que a preocupação maior para o MPLA não é a situação actual, mas sim a sucessão de José Eduardo dos Santos, o presidente do partido desde 1979.
Para o analista a nível do partido tudo “anda a volta” do seu líder, o que gera a prática do culto à personalidade ao presidente, cujas qualidades são “exaltadas até ao extremo.”
Par ao analista isso é uma situação que a continuar poderá dar origem à uma crise no seio do seu partido.
Por sua vez, o docente universitário Venceslau Alves entende que o partido dos camaradas tem vindo a demonstrar crescimento, evolução e organização ao longo dos seus 58 anos de fundação, o que lhe valem a realização de congressos exemplares. O analista rejeita a alegada ideia de prática de culto à personalidade ao líder do MPLA.
“Não vamos denominar isto de culto à personalidade mas sim de uma admiração carismática ao líder do MPLA”, disse.
“Porque, diga-se em abono da verdade, que o líder do MPLA é um indivíduo que arrasta multidões, é um indivíduo carismático”acrescentou.
O antigo professor da Universidade do Catambor, a escola de ideologia política do MPLA, Pedro Kaparakata, insiste na ideia de que o partido desvirtuou-se da sua esfera ideológica de fundação, que se diverge muito na prática. O analista pensa que a utilização da política para “acomulação primitiva de capital” não é uma prática exclusiva do MPLA, por isso aponta o dedo à partidos como a FRELIMO , de Moçambique e o ANC da África do Sul supostamente usados para acumulação de riquezas.
Quanto á sucessão presidencial Venceslau Alves diz que pela sua dinâmica dá a impressão que o MPLA tem vindo a preparar-se para os grandes desafios do futuro. Para o analista, o partido dos camaradas tem bases para permanêecer já que, diz o analista, tem maturidade suficiente e mostra ser um partido sólido.
Olhando para o futuro dos angolanos, Pedro Kaparakata entende que uma revolta da população contra o partido governante em Angola, em face da alegada acomulação ilicita de riqueza por parte de elementos ligados ao MPLA está fora de questão.
“Tenho sérias dúvidas quanto a isto, porque isto teria a ver com a reacção dos governados”, disse.
Domingos das Neves pensa que para voltar à sua essência o MPLA precisa“reactivar com seriedade as suas escolas” e solidificar as estruras de base para que conheçam as ideologias e valores do partido.
O analista pensa que seja também necessário dar virtude à política, fruto das necessidades saídas do seu V congresso extraordinário realizado de 4 à 6 de Dezembro. Das Neves pensa por outro lado que lutar contra a corrupção carece além de boas intensões, de actos práticos e exemplares.