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Moçambique: Sete agentes de migração detidos por extorsão em mina de ouro no Zimbabwe


Mina de ouro no Zimbabwe
Mina de ouro no Zimbabwe

Analistas moçambicanos sugerem que a impunidade nas forças de defesa e segurança propicia desmandos de agentes

Um grupo de sete agentes dos serviços de migração de Moçambique, afetos à província de Manica, foi detido e feito refém numa mina de ouro no Zimbabwe, após supostamente terem tentado extorquir o operador de nacionalidade chinesa, disseram testemunhas à Voz da América nesta segunda-feira, 17.

O incidente ocorreu na quinta-feira, 13, e os sete agentes de migração, ligados ao Ministério do Interior, terão sido soltos no dia seguinte, após negociações diplomáticas entre Maputo e Harare.

Moçambique: Sete agentes de migração detidos por extorsão em mina de ouro no Zimbabwe
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Os agentes moçambicanos dirigiram-se ao Zimbabwe numa viatura de fiscalização e cruzaram a fronteira, no Posto Administrativo de Machipanda, através da zona de Penhalonga, uma área rica em ouro e com intensa atividade mineira nos dois lados da fronteira.

Já na mina de Nhamucurara (do lado do Zimbabwe), que dista cerca de quatro quilómetros do marco fronteiriço (E6), suspeita-se que os sete agentes, incluindo duas mulheres, terão tentado extorquir a um cidadão chinês, com documentos moçambicanos, que imediatamente chamou a polícia zimbabweana, que deteve os funcionários moçambicanos.

Nas fotos que circulam na imprensa moçambicana e nas redes sociais, é possível ver os sete agentes, trajados com coletes refletores da migração algemados e cercados por civis armados.

Nas fotos publicadas não aparece a polícia do Zimbabwe.

A Voz da América contactou o porta-voz dos Serviços de Migração de Manica, Abílio Mate, que cancelou uma conferência de imprensa sobre o incidente, inicialmente estava prevista para esta segunda-feira, 17, e declinou qualquer comentário.

Um relatório da comissão mista enviada para averiguar o incidente a que a Voz da América teve hoje acesso, concluiu que os agentes do Serviço Nacional de Migração (SENAMI) terão entrado na mina zimbabweana sem permissão e foram agredidos pela segurança da mina, por excesso de zelo.

Contudo, não houve nenhuma prática de extorsão.

Impunidade?

Este é o segundo incidente que envolve agentes das forças de defesa e segurança moçambicanas com operadores mineiros.

A 6 de junho, um grupo de quatro militares moçambicanos, armados e vestidos à civil, invadiram uma cooperativa mineira no distrito de Gilé, na província moçambicana da Zambézia, e destruiu acampamentos, além de roubar combustível e pedras preciosas.

Os invasores tinham sido, inicialmente, identificados apenas por homens armados, quando mais tarde foram descobertos tratar-se de militares pertencentes a uma unidade na Zambézia.

Até serem identificados já tinham ocorrido três episódios de invasão e vandalização, segundo Alberto Maquinze, administrador de Gilé em entrevista à Voz da América.

Até hoje não foram esclarecidos pelas autoridades moçambicanas os contornos da invasão.

Entretanto, analistas moçambicanos consideram estes episódios como uma “realidade vergonhosa e crescente” no seio das forças de defesa e segurança, que aproveitam dos privilégios de terem acesso a armas e áreas restritas para praticar crimes.

Para o analista político Sande Carmona, a prática criminosa de alguns agentes das forças de defesa e segurança moçambicana tornou-se “perigosa” e “uma ameaça” para as pessoas que estão a tentar ganhar a vida de forma honesta em Moçambique.

“Isto cria condições para uma desordem de Estado. Os agentes de migração invadiram um país alheio para praticar uma vergonha, numa altura em que estavam vergados de fardamento que é o símbolo do estado moçambicano. Não se justifica que esta prática seja de agentes que tenham um comando e tenham superiores”, vinca Sande Carmona.

Já o também Wilker Dias observa que há uma tendência crescente de práticas vergonhosas dos agentes das forças de defesa e segurança moçambicana, devido à impunidade para parar o enriquecimento ilícito dos mesmos.

“A população em Cabo Delgado já confia mais nas forças estrangeiras, exatamente por causa dessas práticas de extorsão dos agentes das forças de defesa e segurança, que são cada vez mais crescentes”, precisa Wilker Dias.

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