O soldado que matou oito colegas e três civis num destacamento militar em Cabo Verde, na passada terça-feira, 26, continua nas instalações da Polícia Judiciária nesta quinta-feira, 24 horas depois de ter sido detido.
Manuel António da Silva Ribeiro assumiu a autoria do crime e confessou que pretendia matar o padrasto e todas as pessoas que pudesse no comando militar localizado na capital do país.
Entretanto, continua-se questionar o desempenho das Forças Armadas neste caso que deixou perplexa a população cabo-verdiana.
Ao contrário do que afirmou a polícia ontem foi o taxista feito refém durante mais de três horas pelo soldado que chamou os agentes que demoraram quase 30 minutos para chegar ao local, de onde o militar tentava fugir.
A tia do taxista, identificada como Aracy, disse à VOA que Rodenelo Baptista procurou durante três horas escapar do soldado para informar a polícia.
"Felizmente ele teve sangue frio e conseguiu convencer o militar a ficar no perímetro da cidade, evitando assim que ele pudesse ser morto", afirmou Aracy, realçando o papel que ele desempenhou para que Manuel Ribeiro fosse detido.
Em entrevista à televisão pública, TCV, taxista Rodenelo Baptista revelou que soldado confessou-lhe o crime e que não suportava abusos dos superiores.
"Ele disse que queria despedir-se da irmã, matar o padrasto e todas as que pudesse nas Forças Armadas", afirmou Baptista que, depois de enganar o soldado com o argumento de que ia procurar um apartamento seguro para se escondesse, chamou a polícia.
"Eles chegaram quase meia hora depois", concluiu o taxista.
Em conversa com a VOA a partir da ilha do Sal, onde vive desde que foi para a reserva há 25 aos, o primeiro comandante das Forças Armadas (FA) Júlio de Carvalho, considera que, por agora, é normal haver mais perguntas do que respostas porque há que aguardar as investigações.
Carvalho justifica a falta de comunicação entre o destacamento militar e o Comando na capital, a 25 minutos da Praia, com o facto de o soldado ter morto todos os colegas que, alegadamente, dormiam, mas lembra que as FA têm uma grande condicionante financeira.
"As FA sempre foram aquelas que o país pôde ter, com a condicionante financeira que Cabo Verde sempre teve, os recursos humanos e meios sempre foram aqueles que o país conseguiu oferecer, com algum apoio da cooperação internacional", lembra Carvalho que acredita que as respostas surgirão com s investigações.
O antigo combatente pela independência e ministro do Interior e da Defesa e Segurança entre 1981 e 1991, vê com bons olhos o desempenho das FA, dentro das limitações do país, "mas elas não têm nada a ver com as FA de há muitos anos porque há pessoal muito bem formado e em boas academias".
Questionado se o sistema de selecção de recrutas é seguro frente a informações não confirmadas de que "as motivações pessoais" referidas pelo Governo como estando na causa desse crime podem estar relacionados com algum problema de foro psíquico do soldado, Júlio de Carvalho disse que tudo leva a crer que passou todos os testes "e o Centro de Recrutamento tem especialistas de saúde".
A este propósito, aquele militar de carreira revelou que, pelas informações que tem, anualmente, dos cerca de dois mil candidatos a recrutas "cerca de 50 por cento reprovam".
Júlio de Carvalho lembra, entretanto, que "ninguém sabe o que vai na cabeça de um pessoa e é por isso que estamos frente a esta tragédia nunca vista em Cabo Verde".
O massacre de Monte Tchota provocou 11 vítimas com idades compreendidas entre os 20 e os 51 anos, sendo oito militares e três civis, dois de nacionalidade espanhola e um cabo-verdiano.
O Governo cabo-verdiano decretou dois dias de luto nacional a partir da zero hora desta quinta-feira e continua a investigar o caso.
O soldado Manuel Ribeiro deve ser apresentado esta sexta-feira, 29, à justiça militar.