Gene Sharp nunca pensou que o seu livro levasse alguém para a prisão
Até há cerca de 20 dias pode nunca ter ouvido falar do nome do autor de "Da Ditadura à Democracia”, ou tão pouco da obra.
Mas depois dos acontecimentos de 20 de Junho, ocorridos em Luanda, esse é um nome e um livro que deverá suscitar curiosidade em muitos de nós.
Esse era um dos livros que o grupo de activistas lia na sua reunião, quando foi surpreendido pela polícia em Luanda.
O livro compila 198 métodos de acção não-violenta para combater regimes ditatoriais.
Gene Sharp ficou surpreendido ao saber que um dos argumentos para a detenção dos activistas foi estarem em posse do seu livro: "O meu livro não tem mesmo nada a ver com golpes de Estado é uma obra sobre formas pacíficas de mudança", disse em entrevista ao site Rede Angola, acrescentando que o seu livro "só é subversivo para as pessoas que defendem ditaduras”.
Na mesma entrevista reiterou a sua posição contra o uso da violência para derrubar ditaduras: "Porque as ditaduras têm à sua disposição todos os meios para exercer a violência. Têm todas as armas, todas as bombas, todos os meios de tortura, todas as prisões. Por que razão vamos escolher as armas do inimigo? Não faz qualquer sentido".
E deixou um apelo aos activistas angolanos detidos: "Usem a cabeça e pensam cuidadosamente no que vão fazer a seguir".
O livro "Da Ditadura à Democracia” é uma ferramenta que ajuda as pessoas a pensarem por si, explica na mesma entrevista, acrescentando que a existência de opiniões própria “aterroriza os ditadores”.
Gene, também conhecido como o “pai das revoluções pacíficas" publicou este livro em 1993, com o objectivo de ajudar os seus amigos birmaneses, mas desde então tem sido usado por vários movimentos em diversos países. Está traduzido em 34 línguas.
"O meu livro não defende golpes de Estado"