Milhares de moçambicanos deslocados de guerra não conseguiram um “prato de comida adequado” no Natal, como é tradicional em comunidades de Manica, no centro do país, e muitos vão repetir as festas de transição de 2016 para 2017, com feijão e farinha de milho, o único donativo do Governo.
Entre lamentações do conflito armado os ter tornado mais pobres, por perdas de bens e riquezas durante as fugas para zonas mais seguras, os deslocados se desesperam com a falta de condições para prover uma festa adequada, no meio de incertezas do retorno a vida em 2017.
“Quero que a situação político-militar fique resolvida na totalidade”, precisou Wilson Bande, deslocado nas tendas de Vanduzi, que se emociona ao lembrar da abundância de comida no antigo lar em Chiuala, enquanto espera um prato de xima (farinha de milho), única refeição do dia intercalado por mangas verdes.
Cerca de seis mil pessoas estão em centenas de tendas distribuídas pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INCG), em cinco centros de acomodação nos distritos de Gondola, Vanduzi, Guro, Mossurize e Báruè.
Elas fugiram da violência militar provocada pelo conflito que opõe as forças governamentais e o braço armado do principal partido da oposição, Renamo.
Paz e regresso à casa
“Em 2017 queremos ficar livres. Não mais passar as festas como estamos a atravessar agora, tínhamos farturas nos nossos lares estragados pelo conflito”, disse à VOA outra deslocada, Fátima Saide, junto com seis membros da família que foram forçados a se deslocarem de Ncondedzi.
Com uma trouxa de mangas acabadas de apanhar numa floresta, Joaquim Inácio, deslocado há vários meses no centro de acomodação de Vanduzi, juntamente com 11 membros da família, insiste que se fosse alcançada uma pacificação do país “retornava rápido” para voltar a viver, considerando o aglomerado nas tendas uma “pobreza sofrida”.
Almeida Teixeira, delegado provincial do INGC (Instituto Nacional de Gestão de Calamidades) em Manica, assegurou que o Governo providenciou alimento aos deslocados no mês de Dezembro, para as festividades, e vários donativos têm chegado para o mantimento de Janeiro.
A região centro do país tem sido palco de emboscadas a alvos civis e militares que as autoridades atribuem ao braço armado da Renamo, partido que exige governar em seis províncias onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
As forças do Governo e da oposição têm-se envolvido em confrontos, enquanto representantes das duas partes, sob mediação internacional, iniciaram um processo negocial em Maputo, sem qualquer resultado.
Trégua violada
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou na terça-feira, 27, uma trégua de uma semana como "gesto de boa vontade" e que termina a 4 de Janeiro, mas a Renamo denunciou a violação da trégua com o assassinato ontem de um dirigente do partido em Nampula.
O porta-voz da Renamo António Muchanga confirmou à VOA que José Naitela, chefe de relações exteriores do partido naquela província do norte de Moçambique, foi assassinado por desconhecidos com 10 tiros no bairro de Namutequeliua.
Muchanga desconfia que tenha sido "uma acção dos esquadrões da morte que procuram eliminar membros do seu partido", mas declinou comentar se o facto irá afectar ou não a trégua, remetendo o assunto para uma análise do partido.