O solo angolano é de baixa fertilidade, mas isso não significa que não pode se tornar produtivo, explicou o engenheiro agrónomo Jorge Delfim em entrevista à Voz da América. É um problema dos países com clima tropical e subtropical que pode ser resolvido com trabalhos de manejo executados de forma correta.
A calagem é a prática que visa a corrigir a acidez do solo e também a aumentar os níveis de cálcio e magnésio. No entanto, o custo da calagem em Angola é alto.
"Temos muitos problemas de acesso ao calcário. Não dominamos a tecnologia da calagem. O calcário em Angola é muito caro. Não existe protocolos para se realizar a calagem em Angola. Não existe legislação com relação a esses materiais porque precisam estar legislados, senão acarretam outros problemas quando mal utilizados."
Delfim sublinhou que esses problemas precisam ser resolvidos pelo Ministério da Agricultura para que pequenos e grandes produtores possam ter acesso a essa prática.
"Enquanto não adotarmos práticas que visam a melhorar a fertilidade dos nossos solos, continuaremos a ter problemas de rendimentos e consequentemente a baixa produtividade dos solos".
Política
Delfim acrescentou que a agricultura em Angola é uma das bandeiras da governação do Presidente. A nova realidade que o mundo enfrenta faz com que cada país tenha que refletir sobre as suas políticas alimentares.
Jorge Delfim conhece bem a realidade angolana. Já trabalhou com agricultura e tem um conhecimento acadêmico extenso: é técnico básico e médio em agricultura, carpinteiro, engenheiro agrónomo. Tem um mestrado em Ciências Agronómicas e é doutorando em Agronomia. Delfim lançou em fevereiro deste ano o livro "Angola: acidez do solo e a calagem".
"Os países que não são autossuficientes em alimentos básicos estão a sofrer mais por causa das questões fronteiriças. Em Angola acredito que não estejamos a viver diferente. A produção é muito baixa, descontrolada, sem números credíveis e com estatísticas duvidosas, pois não refletem a realidade do território."
Sobre a governação de João Lourenço, o engenheiro agrónomo acredita que as políticas de agricultura não estão no bom caminho.
"Precisa-se criar modelos de agricultura que se enquadrem na realidade de Angola. Países como Angola, que querem desenvolver a agricultura no século XXI, não precisam cometer os mesmos erros que os outros países na Europa e na América cometeram."
E acrescentou: "Só precisamos agora usar o cérebro e os recursos que temos disponíveis e adequar isso à realidade de Angola".
Delfim explicou que é da responsabilidade de técnicos e engenheiros agrónomos adequar os modelos para estudar as diferentes variáveis e ver qual delas se enquadra no real contexto socioeconómico de Angola e nas modalidades que levam em consideração as populações existentes no país. Ele disse que o governo tem políticas de diversificação com relação à agricultura, mas do ponto de vista do engenheiro essas políticas não estão no bom caminho, porque não há um modelo para ser seguido.
"Quando não temos algo definido vamos ter problema de interpretação".